Funcionários exaustos fecham as portas do Louvre
Escrito por Maria Carvalho em 17 de Junho, 2025

Louvre (CANVA)
O Louvre, museu mais visitado do mundo, não abriu ao público, esta segunda feira, devido a um protesto dos próprios funcionários, que denunciam o colapso interno da instituição.
Mais do que uma simples greve laboral, o momento simboliza o impacto do turismo massivo: “o museu mais icónico do mundo enfrenta o seu próprio ponto de rutura”, descreve a agência AP, comparando-o a casos como Veneza ou a Acrópole.
A greve surgiu espontaneamente durante uma reunião interna, quando vigilantes de sala, bilheteiros e seguranças recusaram-se a trabalhar, protestando contra “condições de trabalho insustentáveis”, segundo o sindicato CGT-Culture. Queixam-se da falta crónica de pessoal, multidões incontroláveis e pressão diária.
“É o lamento da Mona Lisa aqui fora”, disse Kevin Ward, turista norte-americano, retido sob a pirâmide de vidro com milhares de outros visitantes, sem informação clara.
Encerramentos do Louvre são raros, ocorrendo apenas em contextos extremos, como guerras, pandemias ou greves, incluindo uma por sobrelotação em 2019. Ainda assim, poucas vezes foi o caos tão visível: multidões confusas, bilhetes na mão e zero explicações.
A crise surge meses após Emmanuel Macron apresentar o plano Nova Renascença do Louvre, que promete resolver infiltrações, infraestruturas degradadas e excesso de público. A proposta inclui dar à Mona Lisa uma sala exclusiva com entrada agendada e criar uma nova entrada até 2031.
Contudo, os funcionários consideram que as soluções chegam tarde. “Não podemos esperar seis anos por ajuda. Não se trata apenas da arte — trata-se das pessoas que a protegem”, afirmou Sarah Sefian, do CGT-Culture.
A Mona Lisa atrai cerca de 20 mil pessoas por dia à Salle des États, onde o cenário é descrito como caótico. “Não se vê uma pintura. Veem-se telemóveis, cotovelos… e depois empurram-te para fora”, disse Ji-Hyun Park, turista sul-coreana.
Em 2023, o Louvre recebeu 8,7 milhões de visitantes — mais do dobro da capacidade para que foi projetado. Mesmo com um limite diário de 30 mil entradas, os funcionários relatam calor sufocante, falta de zonas de descanso e casas de banho, e uma experiência exaustiva.
Num memorando, a presidente do museu, Laurence des Cars, alertou que há zonas que “já não são estanques”, com riscos para as obras e falhas nos serviços básicos ao público, descrevendo a visita como “uma provação física”.
O plano de renovação, orçado entre 700 e 800 milhões de euros, será financiado por bilheteiras, doações, fundos estatais e rendimentos do Louvre Abu Dhabi. Os bilhetes para turistas extra-UE devem subir ainda este ano.
Mas para os trabalhadores, as melhorias são urgentes. Ao contrário de outros ícones parisienses, como Notre-Dame ou o Pompidou, ambos já em obras com apoio estatal, o Louvre continua à espera — nem restaurado, nem operacional.